domingo, 11 de março de 2018

A arte de olhar

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Quando estamos diante de uma realidade qualquer, boa ou ruim, com algo ou com alguém, com uma ideia ou com uma coisa, enfim, quando estamos contra a parede, vemo-nos cara a cara, frente a frente com algo que vemos e que nos vê. Mas, como será que vemos? E como será que somos vistos Ficamos diante de dois modos de ver a realidade: um pelo complexo de Poliana, outro pela doença do pessimismo.

Pelo complexo de Poliana nos vemos sempre tentando enxergar aquilo que a situação (acontecimento, pessoa, coisa, ideia...) tem de bom. E, dessa perspectiva, abrimos nossa mente e coração para ver como é possível produzir algo positivo naquele contexto. Por sua vez, pela perspectiva pessimista, somos levados a bloquear nossa visão e enxergar exclusivamente o que há de ruim e como algo destrutivo pode vir daquela situação (acontecimento, pessoa, coisa, ideia...).

O fato é que as coisas não são apenas boas ou ruins. Enxergar apenas as coisas boas ou apenas as coisas ruins pode parecer ingenuidade, simplicidade ou excessiva bondade/maldade. A diferença é que, se o olhar de bondade estiver certo, a possibilidade de se produzir coisa boa em mim e no meu mundo é maior. Se, porém, estiver errado, será necessário lidar com uma grande frustração ou uma simples correção de rota. 

Por sua vez, se o olhar negativo estiver certo, a possibilidade de se produzir algo ruim aumenta contra mim e contra o meu mundo. Mas, se ele estiver errado (isto é, se for bom o que se achava ruim), não haverá uma frustração, mas um alívio e, a partir disso, cria-se uma chance de se produzir algo bom. Ocorre uma mudança de rota, para o bem. A grande questão, então, é saber olhar. É permitir-nos ver um outro lado. Isso pode mudar nossa mente, nosso espírito, nosso mundo.

domingo, 4 de março de 2018

Uns passarinho; outros passarão


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Com todo o respeito que eu tenho ao incrível poeta Mário Quintana, que é grande por sua simplicidade; que é profundo graças à superfície de sua escrita; que é singelo na dureza com que diz as coisas tão diretamente... com todo respeito a este inesquecível poeta, faço uso de suas palavas aqui para pensar no que passa; para pensar nos que passam. Para passar o que penso.

Essa vida da gente é tão curta, tão ilusória e tão cheia de coisas, que às vezes tenho a impressão de que "estou cheio de me sentir vazio" - como cantava Renato Russo (outro que passou e que pesou em meu modo de ser e de estar). Às vezes pessoas passam pela vida da gente e, mesmo com toda luz incidindo sobre elas, parece que se tornam simples componentes de uma paisagem cotidiana que já não impressiona os nossos olhos.

Outras vezes somos tão indiferentes ao aspecto humano de uma relação (pessoal, profissional, social...), que também não percebemos que estamos nos deixando passar pelas pessoas sem marcá-las com nossa presença, sem fazer com que nossa existência faça diferença. Como passarinhos, passamos por elas e voamos para longe. Dessa forma, nós passaremos. Elas passarão.

Talvez seja esta a realidade mais presente: assim como tudo passa, todos passam. Que meus olhos estejam bem abertos para não deixar de ver nas pessoas a sua humanidade, de ver nelas aquilo que me faz se mais mim mesmo, de notar o brilho de seu olhar, de seu sorriso, o tremor de sua dor, o calafrio de seu temor... e que eu possa oferecer e receber o necessário abraço, que me dá a certeza de que fico e não passo.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Pessoas: campos minados

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"Cuide bem do seu amor" é mais uma das músicas dos Paralamas do Sucesso de que eu gosto muito. Admiro bastante as composições de Hebert Viana (vocalista que se acidentou caindo de um ultraleve com a esposa - ele sobreviveu; já ela, em menos de um segundo, infelizmente...). Nessa música, há uma estrofe que diz: 
Palavras duras em voz de veludo 
E tudo muda, adeus velho mundo 
Há um segundo, tudo estava em paz!

Esse trecho da música me chama a atenção para o fato de que basta um segundo, não mais que isso - aliás, bem menos que um segundo - para que uma situação se transforme de tal modo, que se torne completamente irreversível. Uma palavra mal colocada, na qual falte bom senso, ponderação, equilíbrio... na qual falte amor, sensibilidade ou falte respeito, é suficiente para que uma trajetória considerada boa e agradável se transmute em tragédia. Basta um milésimo de tempo para o oposto tomar o posto do que estava bem posto.

Havia na minha época de garoto um jogo chamado campo minado, que - como os videogames, os seriados e as diversas redes sociais de hoje - tomavam nosso tempo e ocupava nossa mente. A tensão de estar desbravando terrenos sob os quais havia bombas virtuais domava totalmente nossas emoções e sentimentos. Mas, perder o jogo ali, tendo descoberto tantas e tantas possibilidades, não representava mal tão grande. Bastava recomeçar o jogo.

Mal maior sofrem aqueles que em estado de guerra ou posteriormente a ela, ao andarem de verdade sobre terrenos que escondem minas altamente explosivas e letais, acabam perdendo pedaços do corpo e se aleijando para sempre. Também é assim no misterioso terreno dos humanos. Pessoas são como campos minados que guardam em si pedaços de memória, resquícios de emoções, sobras de sentimentos que, quando tocados indevidamente explodem e matam. Em menos de um segundo.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Dois ouvidos, uma boca


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Certa estava minha minha avó quando me dizia que "Deus nos deu dois ouvidos e uma boca, para ouvirmos mais e falarmos menos". Eu ainda era muito novo quando recebia os conselhos dela na pequena cidade de Janaúba, onde nasci, onde vivi com ela até meus sete anos. Hoje, chegando a quase meio século de vida, vejo que o tempo, dia após dia, transforma isso numa verdade inquestionável. Quanta sabedoria naquelas poucas palavras dela.

A mesma sabedoria que vejo na letra da música "Fala", cantada por Ney Matogrosso, e que gosto tanto de tocar e cantar (https://www.youtube.com/watch?v=v2B-8bU_RpA): "Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto; se você disser tudo que quiser, então eu escuto. Fala. Se eu não entender, não vou responder, então eu escuto; e eu só vou falar na hora de falar, então eu escuto. Fala". Canto para mim mesmo. Falo para mim mesmo. Tentando aprender esse grande ensinamento.

Quem fala mais do que deve acaba derramando uma pesada cachoeira em cima de quem precisava apenas de um copo de água. É tão descomunal a falta de proporção, que quem ouve mais do que deveria fica sem entender absolutamente nada daquele exagero. Igualmente ruim é ouvir alguém que fala sem pensar (ou por brincadeira) e acaba estragando situações, ofendendo ou criando confusões sem a menor necessidade.

Há vezes em que ter dois ouvidos para ouvir mais não é tão legal. Há situações em que concluir "então eu escuto" não parece tão agradável. Eis aí uma grande dificuldade como a de descobrir em cada situação a medida certa do quanto falar. Com nossa fala temos o poder de fazer bem às pessoas com o que lhes falamos (podemos abençoá-las); mas temos também o poder de fazer mal a elas, despertando pensamentos ruins, sensações piores e sentimentos insuportáveis. Que Deus nos dê sabedoria para falarmos o que faz bem; e que nos dê a graça de ouvir o que nos faz bem - porque, se são dois ouvidos e uma boca, o nosso coração é um só.


segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Presente





"Então é Natal" é talvez um dos mais conhecidos inícios de música na nossa cultura. A voz da Simone ecoa em nossos ouvidos todos os anos nesta época do ano. Para os mais jovens, segue o link da música a que me refiro: https://www.youtube.com/watch?v=n7JMVEAjyfY. Os que já atingiram os entornos da minha idade sabem bem do que estou falando. O Natal é um bom período para que os jovens e nós pensemos no passado, no futuro e (sem trocadilho) no presente.


A discussão entre o dar presente, o estar presente e o ser presente é um tanto interessante, mas não convém aqui neste momento. Fica para um próximo texto. O fato é que, chegando à varanda de uma casa onde vim passar esses dias com minha família, deparei com com uma cadeira de escola, daquelas bem antigas, bem do tempo em que eu acompanhava minha mãe nas aulas que ela dava às crianças, mais velhas que eu (ou menos novas, melhor dizendo). Pequenino, eu me deitava numa carteira vazia daquelas e admirava minha mãe no lindo exercício de ensinar - o que, não por coincidência, vim exercer profissionalmente também.


Ao ensinar aprendi cedo que não é clichê a afirmação segundo a qual muito se aprende quando se ensina. Eu não seria minimamente capaz de relatar o quanto já aprendi nesses quase 30 anos de profissão e nesses "vinte e poucos anos" de paternidade. Aprendi, sobretudo, a importância da presença na vida dos que amo. De modo que, ser remetido ao passado pela presença daquela carteira serviu como um arremesso de mim mesmo ao presente (com trocadilho). Resolvi me dar um presente: o de reativar a escrita dos meus textos aqui.


Isso por uma razão muito simples: o melhor presente é o que damos para fazer bem a alguém. O melhor alguém que podemos presentear somos nós mesmos. Longe de ser egoístas, fazemo-nos bem quando presenteamos aqueles de quem gostamos, como uma forma de estender a eles a alegria que temos de estar presentes na vida deles, e eles na nossa. Recebo de mim mesmo este presente vindo em tão boa hora. Então: é Natal.

A arte de olhar

Quando estamos diante de uma realidade qualquer, boa ou ruim, com algo ou com alguém, com uma ideia ou com uma coisa, enfim, quando estam...