quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Pessoas: campos minados

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"Cuide bem do seu amor" é mais uma das músicas dos Paralamas do Sucesso de que eu gosto muito. Admiro bastante as composições de Hebert Viana (vocalista que se acidentou caindo de um ultraleve com a esposa - ele sobreviveu; já ela, em menos de um segundo, infelizmente...). Nessa música, há uma estrofe que diz: 
Palavras duras em voz de veludo 
E tudo muda, adeus velho mundo 
Há um segundo, tudo estava em paz!

Esse trecho da música me chama a atenção para o fato de que basta um segundo, não mais que isso - aliás, bem menos que um segundo - para que uma situação se transforme de tal modo, que se torne completamente irreversível. Uma palavra mal colocada, na qual falte bom senso, ponderação, equilíbrio... na qual falte amor, sensibilidade ou falte respeito, é suficiente para que uma trajetória considerada boa e agradável se transmute em tragédia. Basta um milésimo de tempo para o oposto tomar o posto do que estava bem posto.

Havia na minha época de garoto um jogo chamado campo minado, que - como os videogames, os seriados e as diversas redes sociais de hoje - tomavam nosso tempo e ocupava nossa mente. A tensão de estar desbravando terrenos sob os quais havia bombas virtuais domava totalmente nossas emoções e sentimentos. Mas, perder o jogo ali, tendo descoberto tantas e tantas possibilidades, não representava mal tão grande. Bastava recomeçar o jogo.

Mal maior sofrem aqueles que em estado de guerra ou posteriormente a ela, ao andarem de verdade sobre terrenos que escondem minas altamente explosivas e letais, acabam perdendo pedaços do corpo e se aleijando para sempre. Também é assim no misterioso terreno dos humanos. Pessoas são como campos minados que guardam em si pedaços de memória, resquícios de emoções, sobras de sentimentos que, quando tocados indevidamente explodem e matam. Em menos de um segundo.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Dois ouvidos, uma boca


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Certa estava minha minha avó quando me dizia que "Deus nos deu dois ouvidos e uma boca, para ouvirmos mais e falarmos menos". Eu ainda era muito novo quando recebia os conselhos dela na pequena cidade de Janaúba, onde nasci, onde vivi com ela até meus sete anos. Hoje, chegando a quase meio século de vida, vejo que o tempo, dia após dia, transforma isso numa verdade inquestionável. Quanta sabedoria naquelas poucas palavras dela.

A mesma sabedoria que vejo na letra da música "Fala", cantada por Ney Matogrosso, e que gosto tanto de tocar e cantar (https://www.youtube.com/watch?v=v2B-8bU_RpA): "Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto; se você disser tudo que quiser, então eu escuto. Fala. Se eu não entender, não vou responder, então eu escuto; e eu só vou falar na hora de falar, então eu escuto. Fala". Canto para mim mesmo. Falo para mim mesmo. Tentando aprender esse grande ensinamento.

Quem fala mais do que deve acaba derramando uma pesada cachoeira em cima de quem precisava apenas de um copo de água. É tão descomunal a falta de proporção, que quem ouve mais do que deveria fica sem entender absolutamente nada daquele exagero. Igualmente ruim é ouvir alguém que fala sem pensar (ou por brincadeira) e acaba estragando situações, ofendendo ou criando confusões sem a menor necessidade.

Há vezes em que ter dois ouvidos para ouvir mais não é tão legal. Há situações em que concluir "então eu escuto" não parece tão agradável. Eis aí uma grande dificuldade como a de descobrir em cada situação a medida certa do quanto falar. Com nossa fala temos o poder de fazer bem às pessoas com o que lhes falamos (podemos abençoá-las); mas temos também o poder de fazer mal a elas, despertando pensamentos ruins, sensações piores e sentimentos insuportáveis. Que Deus nos dê sabedoria para falarmos o que faz bem; e que nos dê a graça de ouvir o que nos faz bem - porque, se são dois ouvidos e uma boca, o nosso coração é um só.


A arte de olhar

Quando estamos diante de uma realidade qualquer, boa ou ruim, com algo ou com alguém, com uma ideia ou com uma coisa, enfim, quando estam...